Existem alguns momentos únicos. Hoje, positivamente, é um deles.
Não sou de torcer pelo fracasso de nenhuma administração. Juro. Mas imaginar que Darcy Vera (DEM), a prefeita rosa, assessorada pelos maiores bandidos da história de Ribeirão Preto passaria quatro anos sem ser pega com a boca na butija era sonho demais.
Pois bem, escondida na capa do jornal Tribuna Ribeirão vi uma chamada sobre um processo do lixo. Gosto do assunto e resolvi tomar conhecimento da matéria. Quase pulei da cadeira quando vi do que se tratava.
Mas vamos ao caso.
O Ministério Público Estadual abriu, em fevereiro de 2009, um inquérito civil para investigar possível direcionamento na licitação para serviços de transporte e destinação final do lixo em Ribeirão Preto. Diz a uma matéria do Estadão:
“A vencedora é a Leão Ambiental, do grupo Leão & Leão. A empresa foi a única a apresentar propostas de preço para os serviços, que podem render até R$ 25 milhões em 30 meses. A Leão & Leão chegou a ser denunciada em 2006 no processo da máfia do lixo e acusada de ter desviado R$ 30 milhões dos cofres da prefeitura na gestão Antonio Palocci (2001 -2002)”.
Até ai, tudo bem. Quem é de Ribeirão e quem já trabalhou na imprensa de lá, como meu caso, sabe que o problema não é só da Dárcy. Todos os governos desde o primeiro mandato de Palocci – Jábali, Gasparini, Maggioni e Dárcy, e desses eu falo porque acompanhei- fizeram licitações para beneficiar a Leão. Da forma da mais deslavada picaretagem. O esquema da propina e das picaretagens é bem conhecido de qualquer um medianamente informado. Imagno que rolava nas administrações anteriores, embora não tenha vivido tal época.
Mas ai acontece o milagre: o MP vem e fala abertamente isso. Eis a matéria do Tribuna, em um belíssimo trabalho de apuração dos repórteres Lauro Sampaio e André Luis:
“A Procuradoria Geral de Justiça (PGJ) apresentou denúncia contra a prefeita de Ribeirão Preto, Dárcy da Silva Vera (DEM), no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) por crime de responsabilidade. O procedimento tem por base supostas irregularidades no processo de licitação do serviço de transporte e destinação do lixo do município, aberto em dezembro de 2008, durante a administração de Welson Gasparini (PSDB) – o contrato foi assinado em abril de 2009, na gestão da democrata.
A responsável pela denúncia é a procuradora Márcia de Holanda Montenegro. A acusação será analisada pelo desembargador Camilo Léllis, que após a apreciação emitirá parecer contrário ou favorável. O voto do relator será analisado por outros dois magistrados. “Em caso de concordância com a denúncia, aí sim será instaurado um processo crime. Por enquanto é apenas um processo investigatório”, afirma a secretária de Negócios Jurídicos, Vera Lúcia Zanetti.
Ai a matéria, muito bem escrita e editada, por sinal só com o título muito fraco, o que não é do feitio do Hilton Hartman, o maior mancheteiro de Ribeirão – segue contando o caso. Eu manchetaria assim:
MP chama Dárcy de bandida por picaretagem em licitação do lixo
Procuradoria pede que prefeita vá ao xilindró por roubar dinheiro do povo; para assessor rosa, “isso é normal”
Ou, mais jornalisticamente
Máfia do Lixo
MP pede condenação criminal de Dárcy por direcionamento de licitação
Procuradoria quer que prefeita seja responsabilizada pelo crime; assessoria considera fato “normal”
E, depois, comenta
“Já o vereador Gilberto Abreu (PV), que presidiu uma Comissão Especial de Estudos (CEE) para acompanhamento de editais da Câmara Municipal, afirmou não duvidar e até acreditar que o direcionamento tenha de fato ocorrido. “É comum entre as empresas que disputam licitações, ajudarem-se umas às outras. No caso do lixo então, elas demarcam território”, ressaltou o parlamentar que, apesar de acreditar nas supostas irregularidades, disse que não poderia acusar a prefeita Dárcy Vera pelo ocorrido”.
Natural. Ele é da base que elegeu a prefeita e tem cargos pessoais e do partido na administração. A matéria segue contanto o causo. Recomendo a todos a leitura. E agora vamos cornetar.
Havia comentado sobre a letargia do MP, e agora sou obrigado a reconhecer que minhas críticas deveriam ser melhor relacionadas e excluir, talvez, alguns do criminal. Mea culpa feita, me chocou saber a versão do nosso pederasta querido, o assessor rosa, dizendo que “isso é coisa normal”.
Normal o caráleo, isso é bandidagem e da grossa. Bendito MP que declarou aos quatro ventos que quer a prefeita rosa, que já foi chamada de bandida por uma sentença judicial, tem que ir em cana pra aprender a roubar dinheiro do povo.
E tem mesmo.
O passado, a biografia egressa e as “realizações” de dois anos de governo não deixam dúvidas. Ainda que pese sua baixa capacidade intelectual para assaltar os cofres públicos, a prefeita rosa fez o que de pior pode se esperar de um governante: aliou-se ao mais podre da cidade. Não é novidade que a família Rossi e o Palocci mandam, desmandam e remandam na administração. Que, salvo honrosas exceções, as pessoas que deveriam assessorá-la são bandidos, picaretas da pior espécies, gente com condenação por dano ao erário, enfim, ao que de pior assola a politica de Ribeirão.
Hoje estou um pouco de alma lavada. Mesmo longe, em Franca, dói a cidade na qual cresci e me criei ser assaltada por bandidos dessa sorte. Mas hoje, ainda que eu saiba que as chances de isso dar em nada são gigantescas, senti que não estou sozinho. Que não sou o único que sabe da (falta de) caráter dessa gente.